16 fev 2024

Design Thinking impulsiona pesquisa para mapear ecossistema de evidências no Brasil

Autora: Rebeca Cardoso Pedra

Introdução

No cenário de crescente importância das políticas informadas por evidências e da Coalizão Brasileira pelas Evidências, surge a necessidade de mapear o ecossistema de evidências no Brasil. Este ecossistema, composto por diversos núcleos e iniciativas, muitas vezes opera descoordenadamente, levando a uma fragmentação de recursos e esforços. O Projeto de Mapeamento visa identificar atores, capacidades e fragilidades desse ecossistema, com a finalidade de promover políticas públicas mais assertivas, alinhadas com o ODS 16.

O Projeto pretende mapear, descrever e analisar o ecossistema de produção, uso e disseminação de evidências em todas as regiões do Brasil. As fases do estudo envolvem a tradução transcultural de ferramentas da Organização Mundial de Saúde e a parceria com a Coalizão Brasileira pelas Evidências para identificar instituições e atores-chave através de métodos como amostragem snowballing, netnografia, aplicação de ferramentas para aprofundamento e exploração do ecossistema e entrevistas de grupos focais para validação.

Design Thinking na Pesquisa

O projeto adotou o Design Thinking (DT) em duas fases, utilizando as metodologias de inovação do design thinking/duplo diamante orientando-se pelo Open policy making toolkit do Policy Lab. As taxonomias Health Systems Evidence e Social Systems Evidence são guias na exploração do ecossistema. Na primeira fase, o foco é na descoberta do problema, envolvendo especialistas e usuários na definição de questões e problemas. A segunda fase concentra-se na elaboração, entrega e prototipação de soluções, incorporando ferramentas do Policy Lab em ambas as fases.

Já estamos bem avançados na primeira fase do projeto. Concluímos a netnografia de todo o ecossistema Brasileiro. Fizemos uma tradução e adaptação livre das duas taxonomias, bem como da ferramenta de exploração para serem adequadas à realidade brasileira. Realizamos entrevistas piloto para validar a adaptação das taxonomias e o método de exploração. Com esses primeiros resultados, já realizamos os ajustes e estamos nos preparando para iniciar as entrevistas com todo o ecossistema.

Benefícios do Design Thinking

O Design Thinking traz uma abordagem centrada no ser humano ou no usuário, combinando empatia, colaboração e experimentação. A nossa sociedade está em rápida e constante mudança, assim como os problemas, aumentando a necessidade de soluções mais rápidas, específicas e complexas. Isso torna o DT uma metodologia ideal, uma vez que promove a resolução de problemas complexos, agilidade na execução do projeto e desenvolvimento de soluções inovadoras que considerem o que é desejável, viável financeiramente e factível tecnologicamente.

Por isso, aqui no núcleo de evidências EVIPORALHEALTH da FOUSP sentimos a necessidade de implementar o Design Thinking. Construímos nossos projetos de pesquisa e política seguindo o método científico, mas desde o princípio consideramos e validamos as necessidades do nosso usuário final incluído desde o levantamento do problema até a elaboração da solução, seja ela um produto, um processo ou um serviço. É uma lógica de pesquisa feita para ser entregue à sociedade. Utilizamos diversas ferramentas, entre elas destacamos o kit de ferramentas Open Policy-making disponibilizado pelo Policy Lab UK, que nos permite executar uma abordagem inovadora e ágil baseada em design para a elaboração de políticas centradas no usuário. 

Além disso, o uso do DT em projetos de pesquisa é importante para o desenvolvimento tanto do fluxo do projeto quanto da equipe. Quando trabalhamos orientados pelo Design, todos constroem o projeto juntos e se sentem responsáveis por ele, incluindo os alunos de graduação envolvidos, que começam a se tornar pensadores independentes, adquirindo maior senso crítico e raciocínio científico. Veja abaixo o depoimento dos integrantes do projeto, discentes de graduação da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo:

“Esse projeto me enriqueceu imensamente quanto a políticas baseadas em evidências e gestão de políticas públicas. Pude aprender muito mais sobre pesquisa e Design Thinking. Foi um prazer imensurável poder trabalhar com uma equipe impar de qualificação altíssima e aprimorar meus conhecimentos. Foi imprescindível para minha decisão em seguir para Pós-Graduação, trilhar esse caminho de aprendizado árduo, mas gratificante.” – Giulia Vaz da Silva

“A experiência de estar fazendo parte do projeto da Coalizão é engrandecedora! Poder aprender mais sobre o Processo de Tomada de Decisões Baseadas em evidência, junto a uma equipe tão qualificada, é certamente uma oportunidade única. Fazer parte de uma iniciativa que envolve a aproximação entre o meio acadêmico e a gestão pública em saúde contribuiu para minha melhor compreensão dos mecanismos de funcionamento do Sistema Único de Saúde, despertando ainda mais interesse nessa área de atuação.” –  Guilherme Poggio de Oliveira Rocha

Projetos futuros e implicações

O uso contínuo do Design Thinking pode ser estendido a futuros projetos, criando um ciclo de inovação e melhoria contínua. O método pode ser aplicado em diferentes contextos, proporcionando soluções ágeis e centradas no usuário.

Para conceber Políticas Informadas por Evidências de uma forma centrada no usuário, estas devem se relacionar aos momentos do DT, considerando a validação e a perspectiva dos potenciais usuários. Algo que não é distante, uma vez que a metodologia Support têm muito em comum com o design, as PIE passam por fases semelhantes às três fases do design: inspiração/análise do problema, ideação e implementação. Contudo, para uma melhor compreensão desta perspectiva, é crucial compreender a relação entre os conceitos de inovação e Design Thinking com aspectos clássicos da saúde e políticas públicas que influenciam a elaboração de políticas e a prática dos profissionais de saúde, por exemplo, que também se relacionam com o território e a sua influência na sociedade exercendo impactos na ciência, na saúde, entre outros.

Framework para a interface do Design Thinking com EIP (Fonte: Pedra 2022).

Contextualização Internacional

Iniciativas semelhantes no Reino Unido e em países europeus já utilizam laboratórios de política que discutem a inovação e utilizam DT na elaboração de políticas públicas. O projeto brasileiro destaca-se pela combinação de Design Thinking e políticas informadas por evidências na busca por soluções em um contexto nacional.

Conclusão

O uso do Design Thinking na pesquisa e nas políticas informadas por evidências é crucial para transformar ideias em impacto. Abordando os “wicked problems” ou problemas complexos de políticas, o DT proporciona uma perspectiva ampla para lidar com a incerteza. A inovação na elaboração de políticas é uma abordagem emergente, discutida tanto nacionalmente quanto internacionalmente, e o projeto brasileiro destaca-se ao incorporar princípios de Design Thinking. A pesquisa, ao adotar essa abordagem, pode transcender a academia e gerar impacto real, avançando em direção às metas da agenda 2030.

Referências:

Pedra, Rebeca Cardoso. Processo de desenvolvimento e validação de taxonomia de COVID-19 e saúde bucal [dissertação]. São Paulo: Universidade de São Paulo, Faculdade de Odontologia; 2022 [citado 2023-12-11]. doi:10.11606/D.23.2022.tde-30012023-132120.

Policy Lab. Open policy making toolkit [Internet]. GOV.UK; 2017 [cited 2023 Dec 11]. Available from: https://www.gov.uk/guidance/open-policy-making-toolkit

OPSI. OECD Declaration on Public Sector Innovation [Internet]. OECD / European Commission; [cited 2023 Dec 11]. Available from: https://oecd-opsi.org/work-areas/declaration/