Ecossistema de evidências para saúde do Brasil: diagnóstico situacional do uso de evidências nos níveis federal, estadual e municipal
Resumo do projeto
O projeto ECOEVI visa mapear, analisar e fortalecer o ecossistema de produção, intermediação e uso de evidências para políticas públicas de saúde no Brasil. A iniciativa é resultado das atividades do Grupo de Trabalho Diagnósticos Situacionais da Coalizão Brasileira pelas Evidências e realizada por parceria entre o Instituto Veredas, a Universidade de Sorocaba (UNISO), a Universidade de São Paulo (USP), em articulação com o Ministério da Saúde e com financiamento da Organização Panamericana de Saúde (OPAS). Período de realização: Outubro/2024 a Dezembro/2025.

Objetivos
- Mapear o ecossistema de evidências em saúde no Brasil, classificando atores segundo funções de produção, intermediação e uso de evidências.
- Adaptar, validar e aplicar duas ferramentas metodológicas internacionais: o Checklist da OMS e o Manual de Análise Situacional da EVIPNet Europa.
- Realizar análises situacionais regionais, identificando facilitadores, fragilidades e barreiras para o uso de evidências.
- Aplicar a metodologia de autoetnografia junto a organizações-chave.
- Produzir conhecimento científico e disseminar resultados para fortalecer políticas informadas por evidências.
Metodologia aplicada
A metodologia do projeto ECOEVI combina estratégias qualitativas e quantitativas, organizadas em quatro componentes interdependentes: mapeamento, aplicação de ferramentas adaptadas, autoetnografia e estratégia de disseminação. A abordagem busca assegurar representatividade nacional, diversidade de atores e legitimidade nas ferramentas validadas.
1. Mapeamento do Ecossistema de Evidências
O mapeamento identifica e caracteriza os principais agentes que integram o ecossistema de evidências para políticas públicas de saúde no Brasil, organizados em três eixos: usuários, produtores e intermediários de evidências. As organizações mapeadas atuam com diversos tipos de evidências e temáticas aplicadas à saúde, sendo convidadas a integrar o Mapa da Coalizão Brasileira pelas Evidências, fortalecendo a articulação interinstitucional.
2. Aplicação de Ferramentas Metodológicas
A segunda etapa do projeto envolve a adaptação, validação e aplicação de duas ferramentas internacionais, fundamentais para a caracterização e fortalecimento do ecossistema de evidências em saúde no Brasil.
- Ferramenta 1: Lista de verificação da Organização Mundial da Saúde (OMS)
A Lista de Verificação da Organização Mundial da Saúde (Checklist WHO) é uma ferramenta desenvolvida pela Rede para Políticas Informadas por Evidências (EVIPNet Global) que permite mapear domínios relacionados à institucionalização do uso de evidências na formulação de políticas de saúde. A ferramenta avalia a capacidade organizacional e os processos associados. A equipe da Universidade de Sorocaba (UNISO) lidera o processo de tradução, adaptação cultural e teste piloto da ferramenta. Participam 50 organizações, selecionadas para assegurar diversidade setorial e representatividade geográfica. A validação inclui a realização de teste piloto seguido de Diálogo Deliberativo com especialistas e representantes do Ministério da Saúde.
- Ferramenta 2: Manual de Análise Situacional
O Manual de Análise Situacional, desenvolvido pela EVIPNet Europa (Rede de Políticas Informadas por Evidências em Saúde da Organização Mundial da Saúde – OMS), orienta a realização de diagnósticos situacionais em nível nacional. Para este projeto, a versão original do manual foi adaptada para o contexto brasileiro, com aplicação prevista em níveis estadual e regional. A adaptação e aplicação da ferramenta são conduzidas pelo Instituto Veredas.
O objetivo é realizar uma compreensão sistemática da estrutura política e de governança do sistema de saúde, bem como sua articulação com os sistemas de informação, tecnologia e pesquisa no campo das políticas informadas por evidências em saúde.
A fase piloto foi realizada no Laboratório de Evidências da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Pernambuco (LEV-FCM-UPE), com a condução de três oficinas temáticas. A validação da ferramenta ocorreu por meio de Diálogo Deliberativo, assegurando a legitimidade das adaptações realizadas.
A aplicação da ferramenta será feita por meio de oficinas online em grupos focais regionais, com até 20 participantes, estratégia que visa captar as especificidades regionais e a pluralidade de perspectivas institucionais e setoriais.
3. Autoetnografia
A autoetnografia é um método qualitativo que combina elementos autobiográficos e etnográficos, integrando a experiência pessoal do pesquisador ao objeto de estudo. Fundamentada na autorreflexão, valoriza a narrativa e a experiência individual como aspectos centrais da investigação. No contexto do projeto ECOEVI (Ecossistema de Evidências em Saúde no Brasil), o método foi adaptado a partir do modelo da professora Sandy Oliver, do EPPI-Centre (Evidence for Policy and Practice Information and Co-ordinating Centre), para aplicação em organizações que atuam com evidências em saúde no Brasil.
No ECOEVI, a autoetnografia é utilizada como estratégia metodológica complementar, com o objetivo de aprofundar a compreensão da vivência institucional e das práticas cotidianas de organizações-chave do ecossistema de evidências.
Serão realizadas oficinas com 15 organizações, divididas em três eixos: 5 organizações do eixo gestão (usuárias de evidências); 5 do eixo universidades e institutos de pesquisa (produtoras de evidências); e 5 do eixo sociedade civil ou universidades (intermediárias de evidências), incluindo também organizações financiadoras do uso de evidências em políticas de saúde.
Os resultados desta etapa serão discutidos em webinário específico e sistematizados em artigo científico.
4. Disseminação e Produção Científica
O projeto prevê um robusto componente de disseminação, com atividades realizadas ao longo de todas as etapas e intensificadas na fase final.
Entre as ações destacam-se:
- A realização de webinários temáticos com trabalhadores do Ministério da Saúde e outros agentes do campo da saúde.
- A elaboração de relatórios regionalizados, sistematizando as análises situacionais.
- A produção de sumários regionais em linguagem acessível, visando democratizar o acesso aos achados.
- A produção de artigos científicos, abordando: (i) a validação das ferramentas metodológicas; (ii) o processo autoetnográfico e a institucionalização do uso de evidências; e (iii) diagnósticos e análises situacionais regionais.
Leia mais:

Referências
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