18 jan 2024

Desenvolvendo capacidades em Políticas Informadas por Evidências com enfoque em Equidade

Autores: Frederik Dejonghe, Ingrid G. Abdala, Laura Boeira, Kavita Hatipoglu

O uso de evidências na formulação de políticas no Brasil está longe de ser satisfatório. Uma pesquisa recente com servidores públicos federais mostrou que 54% deles nunca ou raramente usaram relatórios de pesquisas científicas para subsidiar suas tomadas de decisão. Para ensinar os conceitos básicos e habilidades de tradução de conhecimento e formulação de Políticas Informadas por Evidências (PIE), a Coalizão Brasileira pelas Evidências estruturou um curso para disseminar os conhecimentos básicos do campo, ministrado por cinco especialistas. Neste relato, a Coalizão compartilha dois aspectos marcantes dessa iniciativa: focalização do público e o desenho do curso.

Segmentação inovadora

A primeira edição do curso, oferecida em 2021, contou com 52 participantes. Enquanto metade dos participantes era do sexo feminino, a maioria da coorte era composta por profissionais brancos e bem-educados de nível socioeconômico médio ou superior das regiões Sul, ou Sudeste do Brasil. Para a segunda iteração do curso, um ano depois, buscamos enfrentar um novo desafio: promover a equidade no ecossistema brasileiro de PIE, incluindo jovens profissionais de origens desfavorecidas e grupos socialmente excluídos.

Com apoio da Parceria para evidências e equidade em sistemas sociais responsivos (PEERSS), aproveitamos nossa rede de universidades e pesquisadores para expandir a chamada para inscritos além do público tradicional. No segundo curso, 86,1% dos 120 participantes entre 20 e 29 anos eram elegíveis para assistência financeira. Mais da metade dos participantes era das regiões Norte ou Nordeste, 40% da zona rural, e os LGBTQIA+, negros e comunidades tradicionais foram significativamente representados. Muitos participantes também estiveram associados às iniciativas da sociedade civil. Juntos, o grupo fez contribuições vivas de múltiplas perspectivas ao longo do processo de aprendizagem.

Figura 1:

Desenho equitativo e inclusivo do curso

Tomamos muito cuidado para garantir que todos os métodos, materiais e vídeos do curso para o segundo curso fossem minuciosamente revisados ​​e validados por especialistas do EIP, bem como por um especialista em linguagem acessível. Nossos materiais de curso usaram linguagem inclusiva de gênero e incluiram legendas, audiodescrições e uma janela de Língua Brasileira de Sinais. Os participantes tiveram acesso a videoaulas produzidas para a primeira rodada, que puderam assistir no seu próprio ritmo. Também consideramos o feedback dos participantes coletado por meio de pesquisas anônimas no meio do curso e ajustado de acordo. Os instrutores e organizadores do curso se reuniam a cada 15 dias para discutir seus desafios e explorar novas estratégias de mentoria.

Os participantes relataram ter adquirido um conjunto abrangente de habilidades e técnicas para conduzir pesquisas de alta qualidade que os prepararam para uma carreira na área de PIE. A maioria dos participantes da primeira edição do curso permaneceu engajada com as atividades da Coalizão Brasileira por Evidências e das PIE, seja como pesquisadores, tradutores de conhecimento ou representantes da sociedade civil. 

Alguns participantes do segundo curso passaram a produzir resumos de resposta rápida para agências estaduais. A maioria dos participantes expressou satisfação com a relevância do curso para contextos do mundo real e relatou que o curso forneceu a eles um conjunto de ferramentas para promover a equidade nas políticas e nos processos de formulação de políticas. 

Parte dos participantes mencionou que suas comunicações com outras partes interessadas melhoraram depois que começaram a adotar a terminologia relacionada a PIE, como informado por evidências em vez de baseado em evidências. Os projetos de estudo dos participantes será publicado e vão contribuir para futuras discussões políticas.

A segunda edição foi o primeiro curso brasileiro focado na equidade no campo das PIE e na superação da sub-representação racial e de gênero. Ainda há muito a aprender sobre como continuar promovendo o interesse em PIE e melhorar o acesso a esse tipo de treinamento, mas foi um passo inicial significativo. Queremos garantir que o curso chegue ao maior número de pessoas possível, por isso estamos explorando opções que incluem parcerias com universidades para oferecer o curso por meio de suas plataformas de ensino online. 

Apesar dos materiais do curso estarem disponíveis publicamente, estamos considerando maneiras de atingir um público ainda mais amplo, criando um curso on-line aberto massivo ou publicando os materiais em uma plataforma de acesso aberto, como um site de recursos educacionais abertos. Também estamos pensando em transformar os vídeos do curso em um podcast, para tornar o conteúdo acessível para aqueles que preferem um formato de áudio ou têm acesso limitado à internet.

Nossos próximos passos incluem alcançar aqueles que querem fazer parte da comunidade de tradução do conhecimento do Brasil, bem como continuar a promover o acesso ao conhecimento PIE. Estamos entusiasmados com essas possibilidades e acreditamos que podemos divulgar as PIE para um grupo diversificado de pessoas e ajudar a desenvolver a capacidade da próxima geração da comunidade de tradução de conhecimento do Brasil.